A Filomena surgiu com o desejo de homenagear uma pessoa muito importante, minha avó Materna, minha querida Philomena. Sobre amar uma avó. Na minha infância tive muita sorte.Tive a presença de duas avós, materna e paterna. Mas o meu coração sempre foi da minha avó materna: Philomena. A lembrança que tenho dela tem cheiro de sopa quentinha muito rala, mas saborosa, com macarrão branquinho, que era assim que eu chamava na época. E que estava à nossa espera quando chegavamos na casa dela.

Dentro dessa lembrança olfativa, lembro de correr para abraçá-la, meus braços ficavam em torno de sua cintura roliça. E eu olhava pra cima, e via seus cabelos ruivos todo cacheado e muitas sardas no rosto e aí eu me sentia em paz. O abraço era terno gostoso e cheiroso.
Com meu rosto colado na sua barriga eu saboreava aquele cheiro do vestido dela, pra mim fragrâncias de vó, de sabão em pó, de alho e cebola e até de terra.

A textura daquele algodão do vestido dela no meu rosto, ainda hoje permanece na memória. A lembrança que tenho desses vestidos era que eram todos de um único modelo, de manguinha fofa, franzidinhos na cintura e com comprimento até o joelho, sempre num floral as vezes miúdo outras vezes num floral maior.

Quando minha mãe morreu, os encontros com minha avó pararam de acontecer.
E só fui reencontrá-la muitos anos depois, quando o Alzheimer já havia levado embora todas as lembranças da nossa vida juntas.

Tenho uma paixão secreta por vestidos de tecido encorpado, marcados na cintura, e de manguinha fofa, pois me lembra ela toda vez que vejo. E para eternizar esses momentos inesquecíveis, a Filomena Surgiu